28 de outubro de 2014

CAPITULO UM – Meeting


Brasil, Brasília DF
Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek
02h 10m 

Estava frio no portão de embarque “E”. Algumas pessoas dormiam nos bancos (até mesmo no chão) à espera de seus voos. Uma garota loira de porte atlético estava sentada à pequena lanchonete em um canto do salão. Ela balançava a perna e estralava seus dedos enquanto conferia as mensagens no celular. “Cadê ela?” se perguntava de dois em dois minutos. A garota direcionou-se ao caixa completamente ansiosa e pediu um pão de queijo.

- Gostaria de algo para beber, senhora? – a balconista perguntou após pegar o pedido da loira.

“Por que insistem em me chamar de senhora? Só tenho 19 anos” pensou, mas pediu uma água e um chiclete para mascar e acalmar os nervos.

- São R$11,50. – falou a balconista. “Puta que pariu. To comendo ouro!?”

A garota estendeu seu cartão apressadamente, olhando para trás o tempo todo.

- Crédito! – afirmou enquanto a moça a sua frente o inseria na maquineta.


“Cadê você Tori?” Mascava seu terceiro chiclete e não largava o celular, até sentir alguém se aproximando.

- Com licença. – cutucaram a loira ansiosa. Ela se virou rapidamente quase tremendo.

- Posso retirar? – era apenas a moça da limpeza pedindo a bandeja de volta, depois de vazia.

- Claro! – respondeu sorrindo gentilmente, mas morrendo por dentro.


Dez minutos de tortura se passaram. A jovem de 19 anos se encontrava quase dormindo agarrada a seu urso de pelúcia pouco discreto, e debruçada sobre sua mochila e bolsa. Havia muita coisa ali dentro. Sempre dizia ela que poderia haver uma emergência, e que tudo o que trazia ali era essencial.
Poucas pessoas circulavam. Algumas apressadas tentando chegar a tempo em seus aviões. Crianças elétricas que não deixavam seus pais descansarem. E uma vez ou outra a garota loira dava uma olhada em um rapaz bonito de olhos claros e feição encantadora. Era sua única distração, pois ele também a olhava quando a mesma não o estava observando.

Em outro canto, entrando na sala de embarque, uma garota, também muito ansiosa, de cabelos e olhos castanhos olhava em volta buscando por alguém importante. Pegou seu celular confusa por não receber nenhuma resposta. Resolveu então ligar para a pessoa por quem procurava.

“To da window (to da window),
To da wall (to da wall),
Till the sweat drop down my balls (my balls),
Till all dem bitches crawl (crawl)”

A jovem ansiosa que já havia deixado seu urso cair se sobressalta com seu celular tocando, a despertando do sono iminente. No visor dizia: Tori. Pensou em atender, mas antes olhou para os lados e ouviu um grito de imediato: 

- LIIIIIV! – atendendo pelo nome, a loira correu em direção à amiga. Era Tori, que segurava um celular na mão e uma bolsa na outra.

- FINALMENTE! – recebeu um abraço apertado, mas o interrompeu. – Fiquei te esperando por 35 minutos. Eu te falei que chegaria às duas. Argh! Te odeio, vem cá.

Puxou Tori para o abraço. Liv e Tori eram amigas há dois anos, porém nunca haviam se encontrado antes. Viviam em Estados diferentes.

As duas se conheceram pela internet através de uma rede social. Unidas por algo em comum: fanatismo por uma banda britânica chamada McFly, hoje em dia conhecida também como McBusted (isso já é outra história). Desde então ambas vem se falando e se conhecendo cada vez mais. 
Quando um dia, Liv conta à Tori que conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade londrina de arquitetura, depois de tanto trabalho e estudo. Aproveitando também para tentar alguns testes para filmes como sempre desejou, Liv decide morar em Londres por dois períodos, assim ganhando experiência e conhecimento para por seus sonhos e objetivos em pratica. 

Logo que soube, Tori ficou tão animada que passou dias pensando nisso. Então decidiu reunir todas suas economias para por os sonhos dela também, em prática. Conversou com seus pais e ex-colegas de faculdade. Pesquisou bastante, finalmente tomando a decisão de ir para a capital da moda no Reino Unido. 

Juntas, Tori e Liv se unem para fazer essa viagem, e se encontrarem pela primeira vez.

Amigas lutando pelos seus sonhos em uma cidade como Londres, poderia durar bem mais do que 1 ano.


- Me perdoe Olivie Miller! - Tori cruzou os braços fingindo estar ofendida. Demoramos na viagem, o carro do meu pai deu problema. Eu te mandei varias mensagens no whats. – Ela não conseguia acreditar que finalmente estava conhecendo uma de suas melhores amigas.

- Meu 3g é terrível, Victória Gomez - Liv repediu o gesto da amiga. Não recebi nada. Fiquei sofrendo sem saber onde você tava. Cheguei a pensar que tinha desistido.

- O que? NUNCA! E caramba, você é ainda mais linda do que nas fotos. Não acredito que finalmente te conheci, Liv.

- Linda? Eu? - sussurrou - Você andou fumando? Você que é uma deusa. Uma deusa baixinha, mas é uma deusa. Você é de verdade cara. Acho que vou chorar. Não acredito que vamos morar juntas.

- Nem eu, to tão ansiosa. Você não faz ideia!

- Ah, eu faço sim. Estou é com medo de você passar a não gostar de mim, e ver como sou insuportável e não querer mais morar comigo...

- Ta doida? 
- Eu sou doida, você sabe.

- Claro que não, Liv. Você é maravilhosa. Vai dar super certo. Você vai ver.

- Tomara. Ai mano, to tão feliz. NÓS VAMOS PRA LONDRES.

Pelo escândalo de Olivie, algumas pessoas que estavam ali ficaram olhando as duas. Inclusive o garoto dos olhos claros que ria disfarçadamente.

- Olha, já posso tirar da minha lista: “Fazer a Tori pagar mico.” – riu enquanto dançava algo estranho, chamando mais atenção.

- Para, Liv. Todo mundo ta olhando pra gente, credo. – Vitória riu, segurando os braços da amiga que ficavam socando o ar em movimentos bizarros.

Olhando o relógio pendurado na parede, Tori viu que faltavam poucos minutos para o embarque.

- Está chegando a hora. Está prepara?

- Eu nasci preparada. Partiu LONDON! – Liv fez pose de super-heroína, arrancando outra risada de sua melhor amiga.


“Atenção passageiros do voo 2560, com destino à Londres, Inglaterra, dirijam-se ao portão de embarque E...”

Tori ajudou Liv com sua pequena bagagem de mão, e juntas embarcaram.

- Cuidado com o Kenai!

- Quem? - Tori olhou em volta.

- O meu urso! - Olivie ajeitou seu teddy bear nos braços da amiga e a empurrou em direção à fila do portão de embarque.


“Ladys and Gentleman, welcome to...”

- Estamos realmente partindo. Londres, aqui vamos nós. – Liv abraçou forte Kenai, o urso, sem conseguir conter o grande sorriso.

- Espero que não tenha turbulência. – Tori segurou o braço da poltrona com força.

- Sempre tem turbulência, relaxa. - ela pegava algo em sua mochila.

- Obrigada. Depois dessa estou super relaxada, Liv. – sarcasmo detectado.

- Não há de que.

- O que você está fazendo? Tem que colocar essa mochila lá em cima.

- Eu sei, só estou pegando umas coisinhas pra usar durante o vôo. Já eu coloco.

A aeromoça estava passando pelo corredor conferindo o bagageiro.

- Vamos, Liv!

- Calma, mulher! Deixa eu só... - Olivie puxou de lá um travesseiro de pescoço, uma venda de dormir, um fone de ouvido e um livro.

- Mas o que...

- O que, o que?

- Nada não, guarda logo isso.

- Com licença, posso me sentar aqui? - elas olharam para cima. Era o garoto bonito da Liv. - Cedi minha poltrona para uma senhora e essa do lado de vocês é uma das únicas disponíveis.

Olivie estava pálida quando Tori olhou para ela, as duas disseram: Sim!

- Obrigado - ele tinha um sotaque diferente.

- Só um instante, por favor. - disse Liv antes que o rapaz pudesse se sentar. - Preciso colocar minha mochila lá em cima.

Ela se levantou erguendo-a.

- Não se preocupe eu coloco para você. - o garoto estendeu sua mão oferecendo ajuda.

- Hmmm. - Tori gemeu baixinho brincalhona.

- Obrigada. - Liv estendeu sua bagagem de mão e sem querer deu uma cotovelada na cabeça da amiga.

- Ai! - Olivie a fuzilou.

- Pronto. - fechou o bagageiro e se ajeitou na ultima poltrona. Tori estava no meio, e Liv na janela. Pela primeira vez em todas suas viagens de avião, Olivie desejou estar no meio.

- Posicione sua poltrona na vertical, por favor, senhor. - a aeromoça se dirigiu à um velhinho de poucos cabelos.


- Estamos decolando. Estamos decolando. LONDON. LONDON. OH LONDON. I HEART LONDON. WE'RE GOING TO...

- Pelo amor de Deus, para Olivie. - Tori estava um pouco tensa.

- Estou cantando para acalmar os nervos "pequetucha"!

- Vamos fazer isso de outra forma. - Victória virou-se para o rapaz ao lado. - Oi, meu nome é Victória, e essa maluca aqui é a Olivie...

- Mas me chame de Liv!

- Olá Victória e Liv. - ele sorriu simpático. - Meu nome é David.

- Olá David. Disseram as duas ao mesmo tempo, e depois riram.

- Isso ta ficando estranho. - Liv ria.

- Concordo. - Tori já estava relaxando.

- Vocês são de onde? - perguntou David.

- Salvador.

- Goiânia, e você?

- Sou de Los Angeles, mas moro em Brasilia há alguns anos.

- Eu sabia que seu sotaque era familiar. - Liv apoiou o queixo em seu urso.

- E esse quem é? - David apontou para o bichinho de pelúcia.

- Esse é meu fiel companheiro, Kenai. - ela fez o urso acenar para o garoto, que riu.

- Oi Kenai, você tem um irmão chamado Koda?

- Não creio você é primeira pessoa que entendeu a origem do nome. - Liv quicava na poltrona. - Enfim, vou ouvir um pouco de musica e dormir. Continuem se conhecendo e depois me contem os babados.

Antes que pudessem protestar, Olivie já estava com sua venda e fone. Abraçou kenai mais forte e virou para o lado depois de fechar a janelinha.

- Ok então. Bom te conhecer, Liv. - David se despediu com um gesto e riu em seguida. - Ela é sempre assim?

- Bom pela internet sempre foi maluquinha. Estou descobrindo isso agora.

- Como assim?

- É a primeira vez que nos vemos pessoalmente. 

- Sério? E vocês parecem tão próximas.

- E somos. Ela é uma das minhas melhores amigas. A gente se entende.

- Então essa coisa de amizade virtual até que funciona. Estou me perguntando se namoro também.

- Aí já não sei. - Tori riu.

- Se conhecem faz tempo?

- Desde 2013. Mas parece que nos conhecemos há décadas.

- Nossa, que bacana isso.


E assim o tempo foi se passando e Victória já não estava tão nervosa. Dormia de tempos em tempos, e quando Liv acordou ficaram conversando sobre como o David parecia ser legal, já que o mesmo estava dormindo feito pedra.

Horas se passaram. Nenhum dos três se aguentava mais. Estavam todos doloridos por ficarem tanto tempo sentados. Inventaram jogos, contaram piadas, e foram se conhecendo aos poucos.


"Senhoras e senhores aqui é o comandante Moreno, bem-vindos à Londres, Inglaterra. São 17:30 no horario local. O clima está nublado, com temperatura de aproximadamente 10ºC..."


- Chegamos. - Liv sussurrou para si mesma.