Brasil, Brasília DF
Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek
02h 10m
Estava frio no portão de
embarque “E”. Algumas pessoas dormiam nos bancos (até mesmo no chão) à espera
de seus voos. Uma garota loira de porte atlético estava sentada à pequena
lanchonete em um canto do salão. Ela balançava a perna e estralava seus dedos enquanto
conferia as mensagens no celular. “Cadê ela?” se perguntava de dois em dois
minutos. A garota direcionou-se ao caixa completamente ansiosa e pediu um pão
de queijo.
- Gostaria de algo para
beber, senhora? – a balconista perguntou após pegar o pedido da loira.
“Por que insistem em me
chamar de senhora? Só tenho 19 anos” pensou, mas pediu uma água e um chiclete
para mascar e acalmar os nervos.
- São R$11,50. – falou a
balconista. “Puta que pariu. To comendo ouro!?”
A garota estendeu seu cartão
apressadamente, olhando para trás o tempo todo.
- Crédito! – afirmou enquanto
a moça a sua frente o inseria na maquineta.
“Cadê você Tori?” Mascava seu
terceiro chiclete e não largava o celular, até sentir alguém se aproximando.
- Com licença. – cutucaram a
loira ansiosa. Ela se virou rapidamente quase tremendo.
- Posso retirar? – era apenas
a moça da limpeza pedindo a bandeja de volta, depois de vazia.
- Claro! – respondeu sorrindo
gentilmente, mas morrendo por dentro.
Dez minutos de tortura se
passaram. A jovem de 19 anos se encontrava quase dormindo agarrada a seu urso
de pelúcia pouco discreto, e debruçada sobre sua mochila e bolsa. Havia muita
coisa ali dentro. Sempre dizia ela que poderia haver uma emergência, e que tudo
o que trazia ali era essencial.
Poucas pessoas circulavam.
Algumas apressadas tentando chegar a tempo em seus aviões. Crianças
elétricas que não deixavam seus pais descansarem. E uma vez ou outra a
garota loira dava uma olhada em um rapaz bonito de olhos claros e feição
encantadora. Era sua única distração, pois ele também a olhava quando a mesma
não o estava observando.
Em outro canto, entrando na
sala de embarque, uma garota, também muito ansiosa, de cabelos e olhos
castanhos olhava em volta buscando por alguém importante. Pegou seu celular
confusa por não receber nenhuma resposta. Resolveu
então ligar para a pessoa por quem procurava.
“To da window (to da window),
To da wall (to da wall),
Till the sweat drop down my balls (my balls),
Till all dem bitches crawl (crawl)”
A jovem ansiosa que já havia
deixado seu urso cair se sobressalta com seu celular tocando, a despertando do
sono iminente. No visor dizia: Tori.
Pensou em atender, mas antes olhou para os lados e ouviu um grito de imediato:
- LIIIIIV! – atendendo pelo nome,
a loira correu em direção à amiga. Era Tori, que segurava um celular na mão e
uma bolsa na outra.
- FINALMENTE! – recebeu um
abraço apertado, mas o interrompeu. – Fiquei te esperando por 35 minutos. Eu te
falei que chegaria às duas. Argh! Te odeio, vem cá.
Puxou Tori para o abraço. Liv
e Tori eram amigas há dois anos, porém nunca haviam se encontrado antes. Viviam
em Estados diferentes.
As duas se conheceram pela
internet através de uma rede social. Unidas por algo em comum: fanatismo por
uma banda britânica chamada McFly, hoje em dia conhecida também como McBusted
(isso já é outra história). Desde então ambas vem se falando e se conhecendo
cada vez mais.
Quando um dia, Liv conta à
Tori que conseguiu uma bolsa de estudos em uma universidade londrina de
arquitetura, depois de tanto trabalho e estudo. Aproveitando também para tentar
alguns testes para filmes como sempre desejou, Liv decide morar em Londres por
dois períodos, assim ganhando experiência e conhecimento para por seus sonhos e
objetivos em pratica.
Logo que soube, Tori ficou
tão animada que passou dias pensando nisso. Então decidiu reunir todas suas
economias para por os sonhos dela também, em prática. Conversou com seus pais e
ex-colegas de faculdade. Pesquisou bastante, finalmente tomando a decisão de ir
para a capital da moda no Reino Unido.
Juntas, Tori e Liv se unem
para fazer essa viagem, e se encontrarem pela primeira vez.
Amigas lutando pelos seus
sonhos em uma cidade como Londres, poderia durar bem mais do que 1 ano.
- Me perdoe Olivie Miller! -
Tori cruzou os braços fingindo estar ofendida. Demoramos na viagem, o carro do
meu pai deu problema. Eu te mandei varias mensagens no whats. – Ela não conseguia
acreditar que finalmente estava conhecendo uma de suas melhores amigas.
- Meu 3g é terrível, Victória
Gomez - Liv repediu o gesto da amiga. Não recebi nada. Fiquei sofrendo sem
saber onde você tava. Cheguei a pensar que tinha desistido.
- O que? NUNCA! E caramba,
você é ainda mais linda do que nas fotos. Não acredito que finalmente te
conheci, Liv.
- Linda? Eu? - sussurrou - Você andou fumando? Você que é uma deusa. Uma deusa
baixinha, mas é uma deusa. Você é de verdade cara. Acho que vou chorar. Não
acredito que vamos morar juntas.
- Nem eu, to tão ansiosa.
Você não faz ideia!
- Ah, eu faço sim. Estou é
com medo de você passar a não gostar de mim, e ver como sou insuportável e não
querer mais morar comigo...
-
Ta doida?
- Eu sou doida, você sabe.
- Claro que não, Liv. Você é
maravilhosa. Vai dar super certo. Você vai ver.
- Tomara. Ai mano, to tão
feliz. NÓS VAMOS PRA LONDRES.
Pelo escândalo de Olivie,
algumas pessoas que estavam ali ficaram olhando as duas. Inclusive o garoto dos
olhos claros que ria disfarçadamente.
- Olha, já posso tirar da
minha lista: “Fazer a Tori pagar mico.” – riu enquanto dançava algo estranho,
chamando mais atenção.
- Para, Liv. Todo mundo ta
olhando pra gente, credo. – Vitória riu, segurando os braços da amiga que
ficavam socando o ar em movimentos bizarros.
Olhando o relógio pendurado
na parede, Tori viu que faltavam poucos minutos para o embarque.
- Está chegando a hora. Está
prepara?
- Eu nasci preparada. Partiu
LONDON! – Liv fez pose de super-heroína, arrancando outra risada de sua melhor
amiga.
“Atenção passageiros do voo
2560, com destino à Londres, Inglaterra, dirijam-se ao portão de embarque E...”
Tori ajudou Liv com sua pequena bagagem de mão, e juntas embarcaram.
- Cuidado com o Kenai!
- Quem? - Tori olhou em
volta.
- O meu urso! - Olivie
ajeitou seu teddy bear nos braços da amiga e a empurrou em
direção à fila do portão de embarque.
“Ladys and Gentleman, welcome to...”
- Estamos realmente partindo.
Londres, aqui vamos nós. – Liv abraçou forte Kenai, o urso, sem conseguir
conter o grande sorriso.
- Espero que não tenha
turbulência. – Tori segurou o braço da poltrona com força.
- Sempre tem turbulência,
relaxa. - ela pegava algo em sua mochila.
- Obrigada. Depois dessa
estou super relaxada, Liv. – sarcasmo detectado.
- Não há de que.
- O que você está fazendo?
Tem que colocar essa mochila lá em cima.
- Eu sei, só estou pegando
umas coisinhas pra usar durante o vôo. Já eu coloco.
A aeromoça estava passando
pelo corredor conferindo o bagageiro.
- Vamos, Liv!
- Calma, mulher! Deixa eu
só... - Olivie puxou de lá um travesseiro de pescoço, uma venda de dormir, um
fone de ouvido e um livro.
- Mas o que...
- O que, o que?
- Nada não, guarda logo isso.
- Com licença, posso me
sentar aqui? - elas olharam para cima. Era o garoto bonito da Liv. - Cedi minha
poltrona para uma senhora e essa do lado de vocês é uma
das únicas disponíveis.
Olivie estava pálida quando
Tori olhou para ela, as duas disseram: Sim!
- Obrigado - ele tinha um
sotaque diferente.
- Só um instante, por favor.
- disse Liv antes que o rapaz pudesse se sentar. - Preciso colocar minha
mochila lá em cima.
Ela se levantou erguendo-a.
- Não se preocupe eu coloco
para você. - o garoto estendeu sua mão oferecendo ajuda.
- Hmmm. - Tori gemeu baixinho
brincalhona.
- Obrigada. - Liv estendeu
sua bagagem de mão e sem
querer deu uma cotovelada na
cabeça da amiga.
- Ai! - Olivie a fuzilou.
- Pronto. - fechou o
bagageiro e se ajeitou na ultima poltrona. Tori estava no meio, e Liv na
janela. Pela primeira vez em todas
suas viagens de avião, Olivie desejou estar no meio.
- Posicione sua poltrona na
vertical, por favor, senhor. - a aeromoça se dirigiu à um velhinho de poucos
cabelos.
- Estamos decolando. Estamos
decolando. LONDON. LONDON. OH LONDON. I HEART LONDON. WE'RE GOING TO...
- Pelo amor de Deus, para
Olivie. - Tori estava um pouco tensa.
- Estou cantando para acalmar
os nervos "pequetucha"!
- Vamos fazer isso de outra
forma. - Victória virou-se para o rapaz ao lado. - Oi, meu nome é Victória, e
essa maluca aqui é a Olivie...
- Mas me chame de Liv!
- Olá Victória e Liv. - ele sorriu simpático. -
Meu nome é David.
- Olá David. Disseram as duas
ao mesmo tempo, e depois riram.
- Isso ta ficando estranho. -
Liv ria.
- Concordo. - Tori já estava
relaxando.
- Vocês são de onde? -
perguntou David.
- Salvador.
- Goiânia, e você?
- Sou de Los Angeles, mas
moro em Brasilia há alguns anos.
- Eu sabia que seu sotaque
era familiar. - Liv apoiou o queixo em seu urso.
- E esse quem é? - David
apontou para o bichinho de pelúcia.
- Esse é meu fiel
companheiro, Kenai. - ela fez o urso acenar para o garoto, que riu.
- Oi Kenai, você tem um irmão
chamado Koda?
- Não creio você é primeira
pessoa que entendeu a origem do nome. - Liv quicava na poltrona. - Enfim, vou
ouvir um pouco de musica e dormir. Continuem se conhecendo e depois me contem
os babados.
Antes que pudessem protestar,
Olivie já estava com sua venda e fone. Abraçou kenai mais forte e virou para o
lado depois de fechar a janelinha.
- Ok então. Bom te conhecer,
Liv. - David se despediu com um gesto e riu em seguida. - Ela é sempre assim?
- Bom pela internet sempre
foi maluquinha. Estou descobrindo isso agora.
- Como assim?
- É a primeira vez que nos
vemos pessoalmente.
- Sério? E vocês parecem tão
próximas.
- E somos. Ela é uma das
minhas melhores amigas. A gente se entende.
- Então essa coisa de amizade
virtual até que funciona. Estou me perguntando se namoro também.
- Aí já não sei. - Tori riu.
- Se conhecem faz tempo?
- Desde 2013. Mas parece que
nos conhecemos há décadas.
- Nossa, que bacana isso.
E assim o tempo foi se
passando e Victória já não estava tão nervosa. Dormia de tempos em tempos, e
quando Liv acordou ficaram conversando sobre como o David parecia ser legal, já
que o mesmo estava dormindo feito pedra.
Horas se passaram. Nenhum dos
três se aguentava mais. Estavam todos doloridos por ficarem tanto tempo
sentados. Inventaram jogos, contaram piadas, e foram se conhecendo aos poucos.
"Senhoras e senhores
aqui é o comandante Moreno, bem-vindos à Londres, Inglaterra. São 17:30 no
horario local. O clima está nublado, com temperatura de aproximadamente
10ºC..."
- Chegamos. - Liv sussurrou para si mesma.